sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ENTENDENDO A CRISE ECONOMICA MUNDIAL DE 2008

Ou

Como os Norte-americanos ferraram com a economia Mundial

A situação atual da economia mundial teve inicio no período do presidente Ronald Reagan e Margareth Thatcher (EUA e INGLATERRA, respectivamente) nos primórdios da doutrina neo-liberal, onde basicamente o Estado deveria ser mínimo, não interferindo na economia de modo algum, cabendo ao próprio Mercado regular-se. Então:

John era um típico americano de classe média e comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiados em 30 anos. Em 2006 o apartamento do John passou a valer 1,1 milhão de dólares.

 Aí, um banco perguntou pro John se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, sendo seu apartamento dado como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares. 

John, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares.  A diferença, 400.000 dólares que John recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do John, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.

 Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o John tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez... 

  O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o John pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o John percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre. Milhões tiveram a mesma idéia do John. Tinha casa pra vender como nunca. E a lei da oferta e da procura é implacável: Muita oferta = preço baixo. John foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito. 

Aí, as casas que o John comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento John achava que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o John havia pago. John se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a John.

John optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. John entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. John quebrou. Ele e sua família pararam de consumir... Milhões de Johns deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Johns em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Johns esses títulos começaram a valer pó. Bilhões e bilhões em títulos passaram a não valer nada e esses títulos estavam espalhados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos. Olha o caminho da contaminação aí.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores. Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Johns atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Johns, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Johns pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar.

Dizem que recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir por medo do futuro. O FED começou a trabalhar reduzindo fortemente as taxas de juros, as taxas de empréstimo interbancários e injetando bilhões de dólares no mercado. O FED trabalhava e o mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que o impensável aconteceu.

O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, num determinado dia, quebrado, insolvente(não tinha ativos suficientes para quitar seus passivos). 

O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez foi o Lehman Brothers, um bancão. No dia 15 de Setembro/2008,  o Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos ) pontos no Indice Dow Jones,a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929 ... Este dia, certamente, será lembrado para sempre na historia do capitalismo.

                Apartir de dezembro de 2008, praticamente todo dia uma empresa de renome anuncia cortes em postos de trabalho, fechamento de linha inteiras de montagem e até de fabricas inteiras. Até aqui a blindagem do Brasil, proporcionada pelos dólares acumulados pelo sucesso nas exportações, tem funcionado. Mas até quando?